Inflação não dá sinais de desaceleração e Trabalhadores Efetivos do MPSE sofrem sem revisão anual

Por Thiago Leão
leao.jor@hotmail.com


Alimentação, transporte, moradia, itens de consumo em geral, despesas médicas, educacionais, contratação de serviços e lazer… A lista é grande e se refere a aspectos de um drama que atinge de forma brutal a população brasileira: a assombrosa inflação que vem tirando o sono das famílias de Trabalhadores Efetivos do Ministério Público de Sergipe (MPSE).

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os preços em abril tiveram alta de 1,04%, fechando o primeiro quadrimestre do ano com 4,49% de alta acumulada. Nos últimos 12 meses, os preços cresceram assustadores 12,46% e pressionam ainda mais o orçamento familiar dos trabalhadores brasileiros.

“A inflação mudou de patamar, Isso vem ocorrendo desde o final de 2020 e se agravou em 2022. Estamos hoje com inflação no patamar de 12% e nada sugere que os preços vão diminuir”, avalia Luís Moura, supervisor técnico em Sergipe do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE).


Edição: No início de junho, foram divulgados os números do INPC de maio, com inflação de 0,45%. O acumulado de 2022 alcançou a marca de 4,96% e no últimos 12 meses a índice bateu a marca de 11,89%. Dessa forma, as perdas da categoria chegam a 18,55% em três anos e meio. O próximo índice, referente ao mês de junho, será divulgado em 8 de julho.


Para o economista, os preços podem parar de aumentar, mas nada indica a recuperação do poder de compra da população em geral sem que políticas públicas sejam implementadas com esse objetivo. No contexto do MPSE, a revisão geral anual serve a esse intuito.

“Os trabalhadores, que representam a parte mais frágil dessa cadeia, têm que conseguir repor essa inflação sob pena de comprar cada vez menos. O MP estadual não reajusta salário dos Trabalhadores Efetivos há três anos e é claro que a perda para a categoria é significativa. Para além de Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), há margem de reajuste pelo menos para reposição da inflação e não entendo porquê os gestores não tem a sensibilidade para conceder a revisão inflacionária”, questiona Luis.

De fato essa insensibilidade da administração do MPSE vem incomodando a maior força de trabalho da instituição. Conforme destaca Izac Silva, integrante da Diretoria Executiva do SINDMPSE-SE, os relatos de dificuldades em manter o padrão de vida entre os colegas é dominante nos corredores do órgão.

“Estamos todos preocupados e indignados com a escalada da inflação nos últimos meses no Brasil que vem corroendo o salários dos servidores. Grande parte dos Trabalhadores Efetivos são pais e mães de família que estão preocupados com aumento do peso dos alimentos, do peso da cesta básica em geral no orçamento familiar”, avalia o dirigente.


DIFICULDADES NA BASE

É o caso de Larissa Santana, lotada no município de Estância. Mãe de dois filhos, ela conta que é preciso rever quais itens irão ao carrinho de compras mensalmente. “Tudo pesa, principalmente porque procuramos dar uma alimentação saudável às crianças e o preço das verduras, como cenoura e batata, está muito caro. Ficou muito complicado e estamos cortando alguns itens da alimentação para suprir essa questão dos preços”, revela.

Larissa explica também que as especificidades de sua família também faz com que o orçamento fique exposto a mais gastos com a inflação. Um de seus filhos é autista e sua seletividade alimentar faz com que a alta dos preços seja muito sentida, além de despesas com transporte que explodiram coma  alta dos combustíveis.

“Ele consome muito derivados de leite e itens que custavam R$ 1 estão custando de R$ 1,30 a R$ 1,45. As despesas com transporte também aumentaram, já que a equipe profissional que o atende nas terapias fica em Aracaju. Tenho que ir três vezes por semana à capital e mesmo economizando de diversas formas o custo com combustível aumentou quase 50% nesse trajeto”, revela a Analista do MP.

Lotado em Aracaju, Arnaldo Barreto Neto também se queixa das despesas que aumentaram sem a contrapartida nos vencimentos. Numa família composta por 4 integrantes e um animal de estimação – que também tem despesas, conforme frisa o colega – a alta dos preços é percebida em todos os campos do orçamento.

“A inflação aqui impacta muito na alimentação, já que os preços estouraram, e medicamentos, já que eu e minha esposa estamos com quase 60 anos. Quanto a combustível, tenho um carro movido a diesel e rodo cerca de três mil quilômetros por mês por morar afastado do centro. O diesel custava R$ 3,37 quando adquiri esse carro e hoje está R$ 7,30, um absurdo”, se indigna o colega do setor de Triagem Técnica.

“As despesas residenciais aumentaram um pouco também, nas contas de condomínio, energia e água. Mas, um pouquinho daqui, um pouquinho dali, isso faz um estrago grande nas nossas finanças. A coisa está feia”, reflete.

MACROECONOMIA

Arnaldo está certo. Em levantamento realizado recentemente pelo Banco Modal com dados cruzados do IBGE e publicado pelo Portal G1 atesta que 8 de cada 10 itens ficaram mais caros em abril de 2022 no Brasil. O chamado índice de difusão, que mede quantos produtos sobem de preço a cada medição oficial, é o maior registrado para o mês de abril desde 2003.

Em outro estudo, também divulgado no Portal G1, foi verificado que o poder de compra médio do brasileiro foi reduzido em 31,32% desde 2017. Isso significa que um terço dos rendimentos simplesmente evaporaram frente à corrosão

Entre as causas para o aumento expressivo da inflação nos últimos meses, Luís Moura destaca que a pandemia da Covid-19 e situação de guerra na Ucrânia desorganizou as cadeias produtivas no mundo e isso tem reflexo nos preços no Brasil. Havia formas de criar políticas públicas para mitigação desses efeitos, além de ajustes macroeconômicos, que não foram feitos.

Entretanto, apesar dessa realidade cada vez mais dura, não há previsão de recomposição salarial justa para a categoria. Nas últimas reuniões com a administração da instituição, os representantes do Sindicato ouviram que não há perspectiva de concessão alguma no órgão.

“Temos, infelizmente, uma grande falta de sensibilidade da administração em conceder à categoria um direito que é garantido na Constituição, que é a Revisão Geral Anual. Então, infelizmente, nossos vencimentos estão sendo corroídos por essa inflação galopante”, expõe o dirigente do SINDSEMP-SE, Izac Silva.

LUTA

De fato, essa insensibilidade é a principal causa para a corrosão dos salários. Com perdas acumuladas de 13,59% em três anos, os Trabalhadores Efetivos continuam acumulando perdas e, caso a inflação prossiga no ritmo que está, essa perda pode facilmente chegar à marca de 25% de prejuízo direto para a maior força de trabalho do MPSE.

“Apesar de isso não recompor totalmente as perdas, tivemos reajuste de 10% dos servidores do Poder Executivo estadual e de 6% dos servidores do Tribunal de Justiça (TJSE). Só o MP insiste em não conceder e não há motivo algum do ponto de vista fiscal e orçamentário para que isso aconteça”, avalia Luis Moura.

O economista completa dizendo que haver reavaliação do posicionamento do Mp sob pena de penalizar seus trabalhadores – os que mais precisam remuneração que possibilite evitar mais perdas.

“Mesmo se conceder 12% do acumulado dos últimos 12 meses, por exemplo, mesmo assim os trabalhadores tem as perdas do passado. Se isso se acumular indefinidamente, os servidores não poderão manter o mesmo padrão de vida. Não estamos falando de nada exagerado, só repor o que a inflação retirou”, defende.

Como bem frisa Arnaldo Barreto Neto, passou da hora de haver valorização real dos trabalhadores e isso significa não apenas elogios, mas reconhecimento através de respeito aos direitos.

“É preciso, inclusive, que as chefias dos setores – promotores e procuradores -, além da administração como um todo, reconheçam que elogios não são suficientes. Se nosso trabalho é bem executado, que isso se reverta em respeito e valorização. Precisamos recompor nossos vencimentos e isso é urgente”, defende.

Com toda certeza, essa opinião de Arnaldo encontra respaldo entre toda a categoria.

 

 

 

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